EM CRIAÇÃO

Durante a noite penso no doce mel do seu beijo
Nos brancos pêlos de sua deliciosa pele
Que de ver, me toma uma força, e a tocar me compele
Por dar vida a aspiração única do meu desejo.

Com meus lábios, em seu pescoço tracejo
Uma linha que de arrepios e desejos me repele
Que com seu corpo em meu corpo doce nos mele (me martele)
Ao sentir você, o paraíso com céu azul eu vejo.

Num roçar de corpos, boca e mão
Que vem e que vão, e cessam de repente
De amores românticos, torna-se amor vão

Unindo-os em corpo, espírito, força e mente
Quando longe, o estranho amor que diz sim e não
De não se contentar está contente

INTRODUÇÃO

Quem me fala ao pé do ouvido
Diz-me a verdade do amor que não mais acredito
Vem contar-me da felicidade que já duvido?
Mas com apenas um toque, do amor digo - "Bendito!"

CARTA PARA VOCÊ

Enrolados em panos para proteger do frio,
Unidos em braços, acalentado no coração,

É preocupada a mãe, dá um leve arrepio,

Quando lhe escapa a criança da mão.
Umas poucas horas de distração
E seu pequeno bebê, clamando por ela chora

Num quarto ao lado, nem nesta má hora,
A mãe foge ao filho, mas dá-lhe atenção.
Outrora mãe atenta e provedora,

Mesmo essa senhora de grande misericórdia,
Em memórias, embora sempre protetora,

Esquece sua cheia mente dessa doce criança,
Se quer ela sabe do resto da história.
Quando mãe, nunca lhe falta atenção,
Uma vez pode até para seu coração de bater,
Entristecer sua vida, sofrer, chorar sua dor,
Como pétalas e folhas abandonam a flor
Esperando o tempo de renascer
Rápido vem uma nova vontade de viver,
Era esquecimento, agora nova emoção.
Igual a muitos em minha vida,

Desde antes passam e logo passarão,
Embora genitoras esqueçam a prole querida

Toma como certo o que te escrevo hoje aqui:
Isto é, eu é que não me esquecerei de ti.

QUATRO EXTORÇÕES

Oh morte, oposto da vida, tão rica sorte a nós convida
Oh dor, contra toda alegria, eterna e sem magia, poda do caminho toda a flor
Oh solidão, nos afasta de toda a gente, feliz aquele que te sente e pode tê-la sempre a mão
Oh tristeza, livra-nos da vã felicidade que hoje faz caridade e amanhã fere com firmeza
Oh morte, dor, solidão e tristeza fazem-me forte, sem amor, sem razão e sem beleza.

POEMA

Oh! Doce uva da videira
Em campos verdejantes te vejo
Entre árvores de puro desejo
No nada e na minha vida inteira

Oh! Doce uva da videira
Caí de joelhos ao sentir seu beijo
Do céu, do sol, da luz e lampejo
Brilha em meus olhos colorida clareira

De malícia, fogosa rameira
Manjares que de longe muito almeja
Falsa fada, bruxa verdadeira.

SONETO DA REPETIÇÃO

No sol que hoje não brilha lá fora
Vejo sombras do que foi a vida um dia
Do tempo de constante e real alegria
Do que foi antes, não será amanhã, nem é agora

Sonhos vividos por inteiro pela vida a fora
Desdenhando dos fracos, rindo da apatia
Inocente pecador que renega o mal por alergia
Quero correr parado, chorar de rir, ficar e ir embora

Num sorriso que aquece, enche a vida de magia
Lembrando das alegrias, não ri, mas chora
Hoje em meio à tristeza e afundando em nostalgia

Não se zanga com a vida, nem espera pouca melhora
Acredita que numa morte, foi feliz um dia
Nesta vida, que hoje não brilha lá fora.

SONETO DO TEMPO

Hoje não tem sol nem chuva lá fora
Parece que o tempo conhece bem meu coração
Que a vida parou por um dia e uma hora
E dentro de mim cresce uma ponta de solidão

Você não está aqui, nem aparecerá agora
Sabe, porém, que sem você me perco, perco a razão
Fico sem teto e sem chão quando vais embora
Feliz me acho preso em suas mãos

Ontem ouvi tua voz e depois sonhei
No quarto escuro, sozinho fiquei deitado
Vi você calma entrar e depois lhe beijei

Hoje no marasmo de um dia nublado
Senti seu cheiro, toquei teu corpo e depois chorei
Queria estar contigo, sonhando ao teu lado
(Dormindo feliz e sonhando acordado).

SONETO INTERNO

Do mesmo jeito que o sol nasce
Saindo da água para queimar a terra
No meio da vida que agora cresce
Vive minha alma com a certeza de quem erra

Quanto a meu corpo, minha alma desce
E traz do ar o ódio da vida e o amor da guerra
Vago tonto, esperando minha rotina que não acontece
Em tédio e luto que no meu peito se encerra

Não que da vida eu não goste mais
Porque não me canso de nenhuma batalha
Mas já festejei velórios e chorei carnavais

Minha mente agora na areia encalha
De tantos vivas, vozes, dores e ais

Não quero mais nem menos do que me valha.

NESTA HORA

Já nem sei onde estou
Se em movimento ou parado
Já não sei quem sou
Se um santo ou um tarado.
Neste tempo tenho apenas uma certeza
Qualquer coisa que penso é você
Nada substitui sua grandeza
Que quando em mim...
...(qualquer coisa que penso é você)

FELICIDADE

Um dia vi um vulto rápido passar
Como gente que antes era viva e agora não
Deixou uma essência de cheiros no ar
Gritei de medo, senti um frio que era solidão
É triste que hoje só alma penada venha me visitar

Gente de tão longe que queria ver antes da Dama da Morte
Amigos, inimigos, qualquer um que pudesse me ouvir
Que quisesse saber o que fiz de minha vida, como joguei minha sorte
Das gentes que conheci, de um amor que me fez sorrir
Coisas que a ninguém interessa, levadas da memória pelo vento forte

Ah vida! Quão boa me fosse e me és ainda mais agora
Ninguém deve ver ou sentir a dor que é só minha
Feliz sou por não compartilhar essa última meia-hora
Sabia que terminaria só, pendurado na vida por uma linha
Ao cortá-la deixo o mundo mais feliz, e feliz vou me embora.

Cá do outro lado essa mentira não colabora, mas me engana...

AAA

Hoje, quando amanheceu o dia, ainda pela madrugada
Sentado sozinho no meu quarto,
Sem saber o que fazer, sem saber qualquer coisa
Sentia sua falta, como se sempre estivesse aqui, E de repente notasse a sua falta.
Lá fora a vida amanhecia, e eu sem conseguir dormir,
Não notava a expansão do universo ao meu redor,
Era noite em pleno dia, e eu sem saber aonde ir.
Já era quase seis da manhã, procurei ler para me distrair
Folhei a toa velhos autores, nem eles tinham a explicação,
Talvez eu vire uma estátua em meio a tanta excitação.
Nada parecia ter sentido, ou graça, ou razão, nem vida,
Com um náufrago em uma pequena ilha perdida.
Mas meu navio não afundou, e sim me lançaram ao mar,
Largado a deriva a me afogar em pensamentos
Sabia que era sonho, mas estava ainda acordado
Não espero por resgate, nunca vão me encontrar.
Uma luz quebra meu silêncio e dissipa a escuridão,
Sabia o que era, mas nem quis olhar e saber a verdade,
Fingi que não vi, a espera do sono me deitei então,
Não que o visse chegando, mas esperei com ansiedade.
A insônia não tem culpa, afinal era eu que não queria dormir
Tentei agora, depois da noite passar, deitar, sentir, me acalmar...(por terminar)

NU

Acumulam-se sobre minha cabeça densas trevas, de pura beleza
Raios e relâmpagos que fazem tremer a alma e parar o coração,
Onde o sol brilhar deveria, está uma negra nuvem de pedra fria.
Por pior que o quadro pareça, nos enche de calma e leveza,
A chuva que hoje cai, cai, e escorre, e lava alma, e molha o chão.
Correm, procuram abrigo, armam proteção, será que o céu vai cair?
Num instante caminho só, só eu e as nuvens ameaçadoras.
Contemplo tão belo céu, não é o mesmo céu, forte e esperançoso,
Um céu furioso que começa a desabar...
Sinto seu cheiro, seu gosto, seu toque, seu som

Em meu corpo, em meu rosto, em meu paladar.

SOL E LUA

Hoje ainda queria saber a verdade da lua,
Da dama furtiva que antes fora, andando descalça
Do amor que tivera e transformara-se em farsa,
Bela lua, sem pudor ao rodar a terra toda nua.

Hoje ainda queria saber a verdade do sol,
Do moço formoso a galantear donzelas inocentes
Da desilusão que teve ao seduzir a mais bela das gentes,
Belo sol, amor em chamas num eterno arrebol.

Hoje ainda queria saber a verdade
Amantes que nunca se olham, mãos que nunca se tocam
Bocas que nunca se beijam, corações que se desejam
Luz e escuridão em eterna rivalidade.

Ainda queria saber a verdade
À distância que a tudo separa e tortura,
Aos sentimentos que afloram com estranha bravura
Aos momentos íntimos de carinho e amizade.

Queria saber a verdade
Não apenas por curiosidade
O porque desta força em atividade,
Porque saber a verdade?

Ontem era moço, agora já não tenho mais vontade,
Nem de ver a lua, o sol ou o mar que os separa pela eternidade,
Um amor seja forte ou fraco, despido ou cheio de formalidade,
Mesmo em toda sua mentira - Hoje ainda queria saber a verdade!

AINDA ASSIM...

Minha senhora, quem me dera olhar você agora, sua imagem
Ainda que seja um breve momento, que seja de relance,
Ia acreditar novamente, crer que a felicidade está a meu alcance,
Atento a detalhes pequenos, sua moldura nua na paisagem,
Resplandecente como o luar, que eu nunca me canse de olhar
Antes me cegue Deus se um dia faltar coragem para lhe louvar.

Balança ao vento meus pensamentos, a pensar em você
Enquanto brilha o sol e a lua, que alegria posso ter
Responde "- Verdes campos com belas flores vermelhas."
Nisto não mais tenho agrado, se só estou, e só vou ficar.
Anos parecem passar por mim rápidos como caem as telhas,
Rindo de minha solidão.
Diferentes dos minutos - estes não querem passar,
Olham um por um os segundos e ali ficam a conversar.

Detesto as horas, que de minutos estão cheias, são chatas e não chegam,
Ou querem me enlouquecer por delas esperar que passem já,
Se louco não estou por pensar que demoram a passar.

Senhora sonho com seus agrados, vê-la por todos os lados,
Antes que me diga não, deixe-me tentar fazê-la feliz,
Nada posso fazer sem você, te consagrarei rainha do que quiser,
Trarei votos de toda a terra a bem dizer minha deusa mulher.
Outrossim, se seu delicado amor ao meu simplório amor não quis
Sonharei eternamente com seu sorriso, e você a sorrir para outros amados.

AUTO-RETRATO

Olho para cima por acreditar em ver, lá em algum lugar, Tudo o que vi antes de passar o tempo, antes de aqui chegar. Não vejo aquela felicidade ou lamento, nada parece agradar, Sinto vontade de sair para os amigos rever, sinto vontade de gritar. Como um caixote velho eu fui largado, por aí perdido, Na mesma terra em que sempre pisei, que pensei ter vivido, Nos tristes braços de quem mais amei, de quem havia perdido, Por pensar muito nunca lhe falei, até que já havia partido, Mas pude ver nos olhos que olhei, que o amor não tinha morrido. Depois ao acordar e ver onde estou, cinza quieto e hostil, Lugar desconfortável que agora me restou, lugar febril, Sem beleza ou alegria alguma se assemelhou, vida que partiu, Olhei para cima quando o caixão fechou, mas ninguém me viu.

V.E.M.

Valentes guerreiros percorrem campos imensos,
Isto acontece todo o tempo, guerrear eles vão
De peito aberto, ao invés do coração,
Abandonam a vida, as famílias, acenam lenços.

E quando a noite chega...

Meninos transformados em homens de batalha,
Outrora brincalhões e sorridentes nas ruas,
Revestidos de camuflagem, uniforme e mortalha,
Tentam agora secar as lágrimas, assassinas suas,
E quando a noite chega, os leva e traz, ajunta e espalha.

VIGÉSIMA SEGUNDA

Meu amor, terra, mar e céu
Esta distância que não acaba,
Uma vez doce, duas vezes cruel.

Amor que de longe se gaba,
Mesmo aqui parece não ter fim,
Ora de tristeza, zanga ainda mais braba.
Repentinamente chega até mim,

É papel amarrotado,

Tão belo, carta em folha de jasmim.
Envio-te eu, meu coração selado,
Uma vez batendo,

Agora de amor cegado.
Sonho acordado que estou lhe vendo,
Sozinho no quarto com meus pensamentos,
Imagino você, e continuo te escrevendo.
Minha mente confunde sentimentos,

Conto o que não devo,
Ou esqueço os melhores momentos.
Mesmo quando não te escrevo,
Olho no branco a canção que não se escreveu,

Espero resposta do amor que não me atrevo,
Um dia: - Meu amor é teu assim como eu!

LETRAS

Horas de um tempo contado com saudade,
Outrora lembrado por alguém que sabe pouco
Já sabia antes, que o tempo sem você arde louco,
Emudece, entristece, feito amor de verdade.
Senhor que arrasta dias em grades de liberdade,
Outra vez dono de chorosos pensamentos
Negros, que vão derrubando casas e casamentos,
Haverá saída para tanta dor e grande crueldade?
Estranha maneira de soprar vida ao coração,
Inicia lentamente com mel e carinho,
Cena pequena acaba de vez, num só supetão.
O fim de muitos, menos o meu, que antes sozinho,
Mas agora provei de teus lábios o sabor,
Vivo a sonhar acordado, sorrindo quietinho.
Onipresente em meu pensamento seu calor,
Cortina fina entre dias de mais te querer que queria,

Estar sempre no seio de seu amor.

CARTA

Linha azul, carretel amarelo.
Céu e ouro em cruzamento paralelo,
Quebra ao longe o som de um martelo,
Compõem juntos, um cantar alto e belo.

Linha azul, carretel amarelo.
Vidas ao longe, num estranho paralelo,
Corações a bater, como bate o martelo,
Bela, minha bela: Quero ser teu belo!

Vai e diz, por esse universo paralelo,
Que é não só belo, mas doce e belo,
No horizonte azul, no céu amarelo.

Sua voz ao longe como martelo,
De todos, o verdadeiramente belo!
Amor azul, sorriso amarelo.

FITAS

Mesmos laços estes dos teus cabelos,
Aqueles que te dei por amor, sem razão.
Quando a mim quiseres devolve-los,
Imóvel, enforcarei meu pequeno coração.

Vejo-os com admirável espanto,
Foi com amor que a ti entreguei,
Para rolar meu riso e derramar meu pranto,
Escravo eu, do sonho que sonhei.

De pequenos pedaços daquele pano,
Ato minhas feridas - atos de engano.
É em ti mais que a pura beleza.

Vivo para vê-los, a cada dia, todo ano,
Mereces mais do que meu coração insano,
Linda, rainha perfeita em minha natureza.

FRASE

Clareia e dissipa as sombras,
Quando entre dois...

SEUS ABSURDOS

Cegas e frias imagens
Aquece e coze o pão
Joelhos gastos em vão
Corações de miragens.
Não vos falam mensagens
Acaso existe nisso razão?
Escultura, praga de uma mão
Rios salgados, salgadas margens.
Conhecidas poucas vantagens
Não passarão sem punição
Credos, cruzes e bobagens.
Desvario, devaneios, destruição
Condena-os em tuas viagens
Lenha da mesma árvore, do mesmo chão.

A VERSO VIDA

Não se pergunte o "porquê?"
Por que tudo acontece quando tem que acontecer.?
O que você faria se soubesse o que fazer.?
Porque brigar por tudo, se tudo não dá prazer.?
É a vida um labirinto ou quem está perdido é você.?

PRAÇA

O ar dessa noite estava frio.
Bela, ainda que sem o seu luar.
Não sentia o frio da rua, coberto de sereno, pois serenava forte,
Estranho era estar suando, mesmo ao relento gélido.
Pouco a pouco ouvia longe o chiar do rio,
Passando como passa a vida sem parar.
Alva pele ali nua, cercada de flores, flores com cheiro de morte,
Estranho era estar suando, mesmo ao relento gélido!
O calor da alma atravessa a carne humana,
Apenas se acalma na pele de quem se ama.

CORTE

Colhi hoje um rosa,
Pensei apenas em meu amor.
Verso feito em prosa,
Triste fim de tão bela flor!

UM POR UM

Vai e vem como a onda a beijar a praia,
Desliza leve como algodão ao vento,
Com ritmo e graça passeia louca.
Devagar deixa que a seda a atraia
E continua a malícia de seu movimento
Provocando o silêncio a falar...

Vai e vem como a onda a beijar a praia,
Lento e bonito como sol poente no horizonte.
Toca e retoca com amor sua alma branca,
Leva e traz um rumor fúnebre de vaia
Exagero puro, água insípida no fundo da fonte,
Provocando os nervos a aflorar...

Vai e vem como a onda a beijar a praia,
Avança como a maré a desconsiderar o continente,
Invade casas e ruas, para os pés de todos beijar
Sente-se o mar só ao ter apenas a areia da praia,
Mostra a todos seus belos lábios de ondas sorridentes,
Provocando os homens a amar...

R.A.P.

Conto um conto que não quis contar
Digo de novo o que não quero falar
Areias e mares a me rodear
Terra seca, só à vista.

Brigas para me acalmar
Amores para todos machucar
Vida para confundir
Confundir para solucionar

Brincadeira santa de criança
Morte alheia sem esperança
Vida de várias tolices
Tolas meninices

Ruas grandes da grande civilização
Casas pequenas de pouca atenção
Vidas grandes da grande ambição
Miolo oco da falta de informação

Tragédia grega da modernidade
Marasmo e tédio exagerados
Verdades esquecidas dos dois lados

É noite em minha grande cidade

O CORPO

O corpo
Tocado ao lado,
Cavalo alado,
Permanece imóvel
Preso e amarrado
Dentro mais irado.
Juntos postados
De pés atados,
Com mãos também.
Parece parado,
Está muito além
Ombro inclinado
Instinto travado
Com um golpe
Foi libertado,
Já acordado,
Nada retém.
Sente na pele
Que foi tocado
Sente no peito
Coração disparado
Sente na alma
Tudo acalmado
Sente nos lábios
Lábios molhados.
Reinos perdidos
Reis descoroados,
Princesa santa
Santo pecado.
Num desatino
Desejos trocados
Atos mal pensados
Mesmo destino
Olhos vidrados
Seguem calados
Medo divino.
Rostos colados
Toques delicados
Sentidos ligados
Parecem apertados
Conceitos deturpados
Feito criança
De modos educados
Quando vê um
Brinquedo quebrado.
Dados lançados
Espaços criados
Jeitos melhorados
Crimes apagados
Olham-se afastados
Saudades deles
Tempos passados
Sabores provados
Seres amados.

MEU QUEBRA-CABEÇA

Lírios, rosas e imensos jardins de variadas flores,
Rios, mares e oceanos de vasta imensidão azulada,
Cheiros, perfumes e os melhores e variados odores,
Alheios, longe e distante terra de pureza intocada,
Calafrios, medos e grandes desvairados tremores,
Ruídos, melodias e sons de músicas aos céus entoada.

Veleiros que cruzam o céu são estrelas nesse mar
Perdidas na terra tentam no infinito se encontrar
Procuram, como eu, outras formas para mais te louvar
Como eu, só querem maneiras belas de poder te amar

UM LEVE TREMOR

Montanhas doces como o mel mais puro
Claras e macias, branca neve em dia de inverno
Mais que o passado, melhor que o futuro
Delicias de reis, manjar de um ser eterno
Não será novamente, bela cor de sol poente.

Merecido prêmio de bravio cavaleiro
Diante do dragão, afugenta medo e morte
Da alma, nasce um amor verdadeiro
Alegre contenta-se com tamanha e feliz sorte
Não será mais o mesmo, belas gotas de chuva a esmo.

Um leve tremor lhe toma por inteiro
Com leves toques recobre sua consciência
Estava frio, vento de noites de fevereiro
Recompensado com amor por imprudência
Não será mais noutro tempo, belas folhas carregadas pelo vento.

DOZE HORAS

Quando no meio do dia
Acaba a chuva que te faz dormir
Sente medo de não anoitecer
Cansado desta nostalgia
Com dores na cabeça de tanto ouvir
Palavras que não vai esquecer.

Vendo passar o circulo do infinito
Caminhando em torno das estrelas
Beirando a insanidade e a razão
Das guerras restaram atritos
Nas casas labaredas amarelas
Em almas e cabeças, fome e invasão.

Quartetos de belas melodias
Senhoras, mulheres, moças e meninas
Cantam juntas e lembram todos os dias
Vidas perdidas, escravas e concubinas.

UMA FLOR

Quando se abre atrás de mim a porta
Tímida e comum, imponente rainha,
Semblante lindo como alma morta
Entra e procura por yarinha.
Num vaso pequeno, uma flor torta.

Entra e senta no sofá de carmesim
Fala da vida, pergunta de todos que conhece
Responde um por um, menos a mim
Levanta e caminha, mais linda agora me parece
Nem minha mãe foi bonita assim

Num momento de perdição
Tomo-a em meus braços
Cheira como pura flor

Desejo tolo, mesquinho e vão
Solto-a maravilhosa no espaço
Queria dar-lhe todo meu amor.

IRENE

Corre, corre, corre menina!
Não deixes fugir o tempo
Desce e sobe, sobe e desce a colina
Corre e pega o vento.
Lá estão todos a rir!

Lança fora os sentimentos
Não perca só a esperança
Pois, quanto mais tristes os momentos
Maior seu peso na balança.
Lá estão todos a rir!

Volta e procura agora o amor,
Nos rios, na terra, na grama,
Procuras também buquê e véu.

Carrega-os com cuidado e valor,
Se não achares quem mais ama,
Ajoelha e agradece aos céus.

Lá estão todos a rir.

ÉPOCA

Voa no céu nuvem branca
Algodão das minhas lembranças,
Deste pedaço de céu que arrancas
Levas também minhas crianças.

Longe o vento foi parar
Monstros e animais de anil
Paredes de barro a soprar
Ventos de vigor juvenil

Cobre o céu nuvem branca
Deixa respirar meu coração,
Minha vida - o que aconteceu?

Casas velhas sem trancas
Amores quando vem, já se vão
Meu céu - meu céu anoiteceu.

SANTOS (as):

Como a luz que se apaga no anoitecer,
Assim mostra ser minha vida.
A qualquer momento posso padecer,
Minha luz, minha querida.
Ilumina-me - não me deixes morrer.

Alva pele e de carne pura,
Silhueta de anjo com a face a sorrir.
Macia e adocicada postura
Das estrelas está a se vestir.
Ilumina-me - não me deixes morrer.

Vão e tolo me parecem o desejo
De um dia possuí-la por inteiro,
Ilumina-me - não me deixes morrer.

Ser escravo teu sem receio.
Sentir seu cheiro, provar seu beijo.
Ilumina-me - não me deixes morrer.

FRESTA

Visto daqui, de olhar para lá
Espiando ali, aqui ou acolá.

Ver não é importante,
O momento é que faz a diferença.

O que se olha num instante,
Não se vê numa vida inteira,
De certa maneira, o pouco, muito compensa.

O QUE QUERO

Não quero abrir a boca ao vento
Não quero voltar a desenhar
Não quero olhar dentro dos olhos
Não quero começar a pensar.
Não quero ficar ao relento
Não quero esquecer como voar.
Não quero me fechar para a vida
Não quero cegar meu coração
Não quero sair na frente
Não quero terminar com a solidão.
Não quero viver com esta ferida
Não quero morte
Não quero vida.

MACACOS

Não sei o que tenho para falar
Vejo que palavras não demonstram solução
Quero apenas um lugar
Lado a lado com a solidão.


Solidão não de coisas vazias
Quero amigos e alguém especial
E naquelas noites quietas e sombrias
Saber que não estarei só.

Saber que mesmo que não veja ninguém
Mesmo que não sinta você ao meu lado
Que longe dos amigos esteja também
Terei a mim, um livro e o infinito.

Não sei porque escrevo
Não sei porque acreditar no que escrevo
Quando fluem palavras que não conheço
Abafá-las não posso e nem me atrevo

Escrevo apenas para esquecer
Esquecer de como foi um dia
Um dia em que estávamos juntos
Juntos falando sobre como viver
Viver sem você...

AMORAL

Escrever é fácil.
Falar é difícil.
Escutar é simples.
Sentir é mortal.

AEIOU

Poemas tolos que escrevo sem pensar
Frase boba dita sem regra
Não se sabe realmente amar
Sem tornar-se uma grande brega!

DRIKA RIPILICA

Lá vem Drika, mas de onde vem?
Vem do sol, da lua, das estrelas, do mar
Vestida de vida e morte
Da força e do ódio, do prazer de amar.
Vezes bonita, feliz e forte
Vezes triste e quieta a sonhar.

Lá se vai Drika, mas aonde vai?
Vai para terra que parece seu lugar
Vai só e não volta mais não
Aqui ficamos eu e a solidão
Tinha tanto para lhe falar,
Perguntar porque não casou,
Se a vida lhe deu alguém para amar.

Mas Drika não é nome de gente,
Alcunha pouca para tamanha pessoa,
Menina, moça, mulher atraente.
A mim, fácil e sempre ela engana.
- Saudades de minha prima Adriana.

TERRA

Sei que não faz sentido
Nem espero que faça algum dia
Vejo o que ficou
Vejo uma estrela tão fria.


Saber o que se quer do mundo
Não mais imóvel e moribundo
Agora, feliz e armado para guerra
Enfrentar o amor, a vida, a própria terra.

Sofrer de novo e rir da dor
Abrir o peito,
Calar-se quando mais se quer falar
Esquecer tudo na vida,
Esquecer, quando mais se quer amar.

MATHEUS

Porque escrevo se não sei o que sinto
Porque sentir se não sei expressar
Porque expressar se não sei se é verdadeiro
Porque seria mentira se não sei responder
Porque então perguntar
Porque então se dar a entender
Porque então esperar
Porque não se começa a esquecer
Porque então lembrar
Porque então viver
Porque será que penso em morrer
Porque será que penso em amar

V's

Vã Vida ao Vê-la,
Ver Velada em Véu Vultuoso,
Verdadeira Visão de Vida.
Voltada, Vinda de Volúpia Veloz,
Vaia Vez e Vês Após,
Vão Verdades Vingadas
Por Vozes Vivas.
Variantes de Verso
Verso Vermelho e Virtuoso
Vil e Valioso
Valoroso e Varonil
Vem de Vidros
Vertem Vazios
Volumes Invertidos
Vimes e Vinil.
Vamos Voltar Valentes
Vistas Veementes
Vastas Vezes Vigentes
Vilas e Vertentes.

CARA E FACE

Vejo olhos, boca e nariz, orelhas e servis
Caráter justo de real raiz.
Bochechas vermelhas a sorrir feliz
Olheiras fundas, face ossuda, de mau juiz.


Alegria e esperança, pureza e vontade
Alergia e intolerância, dureza e maldade.
No primeiro ciclo ria atoa, e da vida pouco fazia
Agora a veste mortuária espera, o frio o arrepia.


Tristeza e solidão se vêem num velho ancião
Felicidade e beleza acabaram ontem, hoje sem razão.
Criança pequena de cara suja e forte,
Com os anos viram em face de morte.

MEMÓRIA D'UM DESMEMORIADO

A amnésia de minha vida
Foi trazida pela força de viver
Quero lembrar que nada que sei
Vai fazer diferença para o que há no futuro.
Sei que esqueci o certo
Lembro-me do errado
Não que agora meu ser esteja desperto
Mas será sempre assim,
A vida é um ponto final.

VIDA E MORTE (Despertar!)

Choro vindo de longe
Ouvindo raiar o dia
Veio festa, festança e folia
Veio com ele ou com ela
A alegria e a correria amarela.


Seja fêmea ou macho
O antecessor o quer
Não como peça que aqui encaixo,
Não é assim que o taxo,
Ao ser mais lindo, dar o carinho que puder.

Na aguaria da sexta-feira que não seja treze por azar
Venha logo, para alegria lisonjeira
Com casa limpa, brilhante, varrida, sem poeira,
Felicidade e alegria dar

No dia mais querido
Saber que fez para todos com quem viveu
Tudo que pode, e a eles ajudou, amou e socorreu
Tranqüilo em paz com o coração
Feliz por hoje ter morrido.

LEIA

Dê-me a sua e pegue a minha
Não difere qualquer pequena coisa!
Tudo é igual em todas as linhas
Duas palavras num saco de farinha
Tripudiar uma traz sorte má e mesquinha.
Porque não vês ali todos os desenhos,
E liga uma foto à outra?
Opositores serão perseguidores ferrenhos,
Hoje terás a sorte que amanhã não tenho
Aproveita a vida, perspicácia que contenho.

MAS, (devaneio)

Crês que nada que é jamais há de se tornar nada,
Mas nada é nada e não é nada.
Vê que a visão se altera e jamais altera o que vês,
Mas vês alteração numa alterada visão.
Sabes que a sabedoria é ilimitada, jamais irá limitar o saber,
Mas sabe ilimitadamente e saberá o limite.
Tens que poder é força, jamais force o poder,
Mas podes forçar e terás força de poder.
A lógica não é contraditória, mas o contraditório é lógico,
O lógico não se contradiz, mas contradiz a lógica.

Só o tolo acredita em todas as coisas.
Só o Amor acredita em todas as coisas.
Pois então, vais viver triste?

Música

não minta que sente fingindo descente dizendo que não me viu quem nunca mentiu não desista da guerra que a luta encerra no peito que feriu q...