ACRÓSTICO DA SOLIDÃO

Crises, injustiças, morte e fome
Perseguidores por toda à parte
Um corpo no chão esquecido, sem nome.
Onde se pode refugiar a alma?
Dia-a-dia diante do medo ou da morte
Aflições que nos fazem perder a calma.
Nunca foi tão triste e pobre a vida
Tanto choro, tanto lamento, tão pouca arte
Tanta dor, e a esperança... pequena... perdida...
Sempre mais e mais sofrimento
Na mão e no coração um corte
Queda um povo entre o céu e o firmamento
Outra morte, outra vida, outra ocasião,
Dor, sangue e lágrimas, eis o estandarte
Pela eternidade, geração após geração.
Lar, doce lar! - quem dera fosse verdade
Cada um sofre largado à própria sorte
Na busca por alívio à calamidade.
Ora, pois se eu morresse ou nem existisse
Mesmo a vida vermelha como Marte
Vivo feliz e retiro tudo que disse!

ROSAS

Rochas em meu caminho,
por onde vou sigo sozinho.
Não acredito em nada,
não confio em ninguém,
ninguém que não mereça um pouco de carinho.

Ondas no mar por onde vou,
minha mente há muito naufragou.
Quem me dera amar como já amei,
sonhar como já sonhei,
morrer como já morri.

Santo num sarau ou velório,
genial ou simplório.
Páginas sem fim para ler,
mais vidas para viver,
viver e esquecer que vivi.

Antagonista de mim mesmo,
voltando pra casa a esmo.
Vendo pessoas ao meu redor,
cujas almas esmolam felicidade,
ao meu redor como irmandade.

Nada da vida conheço,
parado pensando envelheço.
E não saio do lugar que estou,
preso ao nada que restou,
preso na minha solidão... só.

Golpes em meu coração,
pedaços de vida pelo chão.
São as rochas em meu caminho,
tudo que senti se desfez,
se desfez sozinho.

Esperança não mais me interessa,
de viver tenho pressa.
Não sentir mais esta dor,
em seus braços viver de amor,
de ilusão e se conformar.

Logo minha vida passa,
fico eu palhaço sem graça.
Em luto no picadeiro,
chorando pelo leite,
e o tempo que assim me aceite.

Agora não mais lamento,
nem mais perco tempo.
Superior a tudo e a todos,
me curvo e obedeço,
vivo, penso, espero e envelheço.

Recomeço a ler minha vida
sem muito interesse
tão bem vivida
tão cheia de paixão
tão vazia de mim.

Olho tudo com indiferença,
nada mais importa
a vida passou
o tempo passou
o amor passou.

Sonhos, ilusões, supertições,
que antes me eram tudo
e agora desaparecem
desmerecem
desfavorecem.

Amo, não como antes,
agora sei amar
seus limites
minhas fronteiras,
paixão da vida inteira

GRITOS

De volta ao ninho sonha com os seus
De volta ao lar e seus pesadelos
Intrigas, mesquinharias, revoltas.
Seu gemido abafado, seu choro trancado,
Ninguém ouve, ninguém se importa, ninguém quer,
Só lhe resta gritar, estourar sua garganta
Num mundo surdo a sua volta
E cego de egoísmo.

INVERNO

Raiva. Ódio. Rancor. Mágoa. Remorso...
A raiva que tenho do golpe ferrenho que me dei.
O ódio que sinto quando eu minto, minto pra mim.
A mágoa que ficou do nada que sobrou de tudo que amei.
E os pensamentos loucos, pedem-me divórcio.

QUE EU

Que eu, que eu quebre, que eu cole
Que eu rale
Que eu role
Que eu ria
Que eu chore
Que eu junte
Que eu isole
Que eu vomite
Que eu devore
Que eu despreze
Que eu console
Que eu atrapalhe
Que eu colabore
Que eu construa
Que eu desole
Que eu odeie
Que eu adore
Que eu cure
Que eu esfole
Que eu atente
Que eu ignore
Que eu prospere
Que eu esmole
Que eu adoeça
Que eu melhore
Que eu respeite
Que eu viole
Que eu rejeite
Que eu incorpore
Que eu aterrisse
Que eu decole
Que eu abrevie
Que eu demore - Que eu viva!

PAIXÃO

Os vermes em meio ao pus e a carne podre, devorando plenamente o morto, vivendo do corpo do outro
...com paixão.
A ave de rapina destroçando entre suas garras sua pequena presa, com o bico rasga-lhe a pele e dilacera
...com paixão.
O roedor com seus longos dentes arranca a vegetação rasteira, mascando ferozmente até a raiz
...com paixão
Os meus roçavam nos lábios seus...
O que sobrou?
O morto se foi
A presa se foi
A relva se foi
Tudo se foi, e nunca mais...
...com paixão.

Música

não minta que sente fingindo descente dizendo que não me viu quem nunca mentiu não desista da guerra que a luta encerra no peito que feriu q...