PRAÇA DA PAZ

Persiste a vida já morta
Numa árvore torta
De galhos secos
Cercada de pedras
E de um banco
Num canto
De uma praça
Na esquina da cidade
Que sem grama
Não mais reclama
Da falta de verde
E de flores.
Bem em frente
Não mais descontente
Que a árvore
Contemplo seus galhos
Que persistentes
Apontam para o céu
Em busca de ajuda
Quase muda
A implorar.
Os homens rotos
Passam sem ver
Seus tristes brotos
Seguem seus caminhos
Nas flores
Que antes viam
Agora só espinhos
No verde que não há mais.
Mas não está só
Por toda à parte
Envoltas em pedras
Cheias de pó
Estão outras árvores
Como mártires
Que nos salvam
E não temos dó.
Se pudesses falar
Ninguém mais
Ia ali passar
Pois seria grande
E alto seu lamento
Contristando a cidade
Levado pelo vento.
Com as pernas que não tem
Andar poderia
Indo muito além
Daquele canto
Não morreria afogada
Em seu próprio pranto
Nem permitiria
Que o tolo humano
Ferisse sua raiz
Que neste ano infeliz
Não cresceu
Pela terra
Pois não há terra
Cercada de pedras
A vida que sofreu
Já se encerra.
Mas quem dera eu
Na próxima primavera
Vê-la verde
Sentar a seus pés
Não só destas
Mas das outras dez
Que agora sem vida
Lamenta a terra
Que sua semente escolheu.
Neste quadro triste
Que ainda existe
Crio a ilusão
De um lindo jardim
Em que minha paixão
Não tenha fim.

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