BIOGRAFIA DO ESPELHO

Pobre coitado
Desde de que nasceu
Já foi taxado
Em tudo que viveu
Um fracassado
Até o dia que morreu.

Não que não houvesse tentado
Fez o que pode
Mas como que por conspiração
Um fracassado
Mesmo com boa intenção.

Já pequeno era culpado
De pequenos delitos
Por sair sem avisar, sem chegar
Um fracassado
Apanhado pela orelha, aos gritos.

Na escola era um atrapalhado
Sempre quieto
Um dia quis dizer um nome feio
Um fracassado
Nem xingar fazia direito, a mãe dizia.

Amou também, mas tudo errado
Cinco anos
Ela nunca soube o que sentia
Um fracassado
Sofreu calado por covardia.

Mas nem tudo havia acabado
Superou-se rápido
Foi tentar conseguir seu sustento
Um fracassado
Muito trabalho, os valores sem aumento.

Saiu de casa apressado
Em outro lugar
Tentar a sorte e ganhar dinheiro
Um fracassado
Suportar pessoas, desistir sem nem tentar.

Parece piada, mas não é engraçado
Agora em casa
Suportar olhares, dito preguiçoso
Um fracassado
Sem ganhos já por mais um ano novo.

Por fim já amargurado
Levanta e cai
Dois amigos viu seguirem a vida
Um fracassado
Não casou nem nunca mais vai.

O pior ainda não foi contado
De tudo que ficou
Sempre havia algo que podia piorar
Um fracassado
De uma em um milhão, o azar ele tirou.

Mesmo num passeio já combinado
Grande dom
De descombinar e destruir os planos
Um fracassado
Erra sempre, para acertar leva anos.

Nem tudo é tão complicado
Muitas vezes
Esforçava-se para fazer o certo
Um fracassado
De Deus mais longe, do Diabo mais perto.

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